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Afinal Existe um mal estar contemporâneo profundamente perturbador,
que é o fenômeno que as autoras denominam com a expressão da gíria dos usuários de drogas: a fissura.
Contudo Essa “loucura por alguma coisa”, uma “força tremenda que move a um desejo irresistível”
costuma ser reduzida a um fantasma, o da droga, mas sua natureza é muito mais abrangente.
Todos somos viciados, não só em cigarros, bebidas, remédios ou maconha, mas em choques de sensações fortes, em emoções sensacionais,
há nisto um fanatismo e uma devoção, pois faz parte da dinâmica do capitalismo espetacular na qual o “o capital é a religião, o novo ópio do povo”. E o capital quer o vício de todos os consumidores em suas mercadorias.
Diferente dos usos, os consumos urgem como uma mania de emoções em que os objetos se tornam fins em si mesmos,
Afinal em que a subjetividade se dessubjetiva no apego apaixonado e desesperado pelo objeto do desejo.
Portanto o fanatismo do vício é a linguagem da propaganda e seu modus operandi é a devoção religiosa.
Com este livro, o tema das drogas sai do “círculo vicioso” de um enfoque moralista baseado no senso comum e adentra a reflexão do pensamento como filosofia.
Uma filosofia não apenas das “drogas” como comumente são entendidas, mas, numa visão crítica dos modelos de biopoder atualmente vigentes,
baseados em marcadores políticos de pretensão científica para aperfeiçoar formas de controle,
inclui as “drogas estéticas” ou a “fissura digital” das novas adicções ao vício das telas, do apego obcecado pelo mundo “virtual”,
como parte essencial de um mundo cada vez mais “fisurado” por alimentos, drogas, carros, roupas, telas, religiões, paixões, sexo.
Numa inspiração que inclui a escola de Frankfurt e o oportuno e pouco comentado filósofo alemão contemporâneo Christoph Türcke,
as autoras deste livro fazem uma feliz parceria entre a filosofia e a psicologia para situar o debate sobre drogas num outro plano,
longe da proliferação de discursos moralistas viciados em coação, que é tentar decifrar a compulsão, o círculo vicioso do vício,
como uma “ontologia da fissura” que mostra o “controle biopolítico dos estímulos estéticos dos corpos” submetendo a “promessa de uma subjetividade autoconstruída da experiência humana”.
Entenda que a fissura por drogas é diferente das outra pois as drogas forçam o viciado a ficar fissurado por ela.
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