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O consumo e dependência de substâncias psicoativas é uma característica comum a populações da maioria dos países
inclusive a do Brasil, sendo o tabaco e o álcool as mais utilizadas.
Muitas variáveis (ambientais, biológicas, psicológicas e sociais) atuam simultaneamente para influenciar
a tendência de qualquer pessoa vir a usar drogas e isto se deve à interação
entre o agente (a droga),o sujeito e o meio (os contextos sócio-econômico e cultural).
Existe no mundo extensa produção bibliográfica sobre questões relacionadas a dependência às drogas (psicológicas, sociais, educacionais, políticas, sanitárias, econômicas e religiosas)
popularmente conhecidas como drogas lícitas e ilícitas.
A partir do século XX, essas publicações se intensificaram.
Várias foram as razões para isso.
O avanço científico e tecnológico, o conhecimento armazenado, a gama de tratamentos existentes, o envolvimento de muitas áreas do conhecimento com essa temática
a alta prevalência de pessoas envolvidas (portadores de dependência, narcotraficantes, crianças, adolescentes, adultos ou idosos).
As reflexões sobre essas questões ocupam grande parte da atenção dos estudiosos.
Embora esses estudos representem boa bagagem na produção de conhecimento
ainda se fazem necessárias mais pesquisas para a melhor compreensão da complicada relação entre as drogas e o homem.
Ainda que tenhamos uma significativa produção intelectual sobre substâncias psicoativas,
somos um tanto acanhados na compreensão deste fenômeno, que muito bem é articulado na obra de Leonardo de Araújo e Mota.
Parafraseando Conte 1, pergunta-se: qual o campo em que se situam as drogas?
A resposta é muito variada e heterogênea, tanto pelas disciplinas e ciências que se ocupam da área das substâncias psicoativas em relação ao uso de drogas,
bem como pelos diferentes lugares que a droga ocupa na vida física, psíquica, legal e social do usuário e da comunidade. O uso de drogas situa-se em uma encruzilhada temática.
O fenômeno diz respeito ao campo sociológico, médico, psicológico, jurídico, etimológico, psicanalítico, educacional, familiar e o religioso.
Na pluralidade das interfaces desses campos é que o fenômeno da droga se situa.
Sendo assim, cada lócus desse campo questiona e toma para si esse fenômeno em nome de alguma verdade que postula, oferecendo as mais diversas soluções 2.
É com essa perspectiva em vista que o autor desenvolve seu trabalho, “Dependência Química: Problema Biológico, Psicológico ou Social?“.
Mota é graduado em Ciências Sociais, professor universitário e doutorando em sociologia (Universidade Federal do Ceará);
procura fomentar a discussão sobre a origem do problema das drogas em relação ao homem.
Trata-se de um livro que “fala as questões das drogas e não a questão das drogas“.
Nesse sentido, estimula a reflexão para a causa (etiologia) do uso de substâncias psicoativas tanto para os profissionais da área da saúde, educação, segurança, ciências sociais quanto para o mundo acadêmico e outros que se interessem por esta temática.
Mota critica em seu livro o reducionismo de muitas teorias que tentam ditar suas “verdades” sobre a etiologia da relação entre o uso de drogas e o homem.
Escreve o autor, “entre os saberes psicológicos não existe uma teoria geral das dependências” (p. 29).
É preocupação constante a questão da “eugenia ou da higienização social” que utilizaria as drogas para desencadear uma nova corrida às tendências de produzir um cenário à seleção artificial dos indivíduos mais aptos.
O autor aponta que o uso de drogas vem como uma panacéia, ou seja, o remédio para todos os males.
Afinal a proposta do livro é justamente uma investigação sobre a etiologia das drogas.
O autor elege a dimensão do modelo biopsicossocial o mais apropriado para esse fim, e argumenta que é necessário um tratamento interdisciplinar para a investigação desse fenômeno que é ao mesmo tempo biológico, psicológico e social, como lócus para compreender “as questões das drogas versus o homem“.
Para poder tecer seus argumentos, Mota divide sua obra, além da introdução e conclusão, em cinco capítulos.
O primeiro define o que é droga e traça uma breve revisão do termo.
O segundo versa sobre a biologia das drogas da eugenia às neurociências, traz à tona as concepções teóricas sobre a etiologia de causa e as ciências biológicas, passando por Comte, Darwin, Lombroso e pelas teorias genéticas.
Portanto o terceiro descreve a questão do uso de substâncias psicoativas e a psicologia: entre o prazer, o condicionamento e a angústia, de maneira a abordar os modelos psicanalítico e comportamental, citando a influência da família, da personalidade e do aprendizado social. A conclusão final é que paradoxalmente ao que tem mostrado a história, a etiologia da dependência química é tarefa impossível de se realizar, e precisará ainda ocupar muitas mentes e esforços. Praticamente nenhum cientista ou teoria chegou a uma conclusão definitiva sobre essa questão, visto que as ciências são intrinsecamente transitórias e que nenhuma instância acadêmica isoladamente é capaz de fornecer uma teoria ou resposta consistente sobre as causas do uso e abuso de substâncias psicoativas.
Embora os problemas do uso de drogas sejam considerados como uma (re)emergência na sociedade, não se pode deixar de ressaltar a importância de se realizar discussões com serenidade e comprometimento, não levando a construções anômalas, sem fundamentação alguma, não sendo possível pensar e abordar o tema em sua complexidade com reducionismos e preconceitos, apenas no campo conceitual teórico, puramente homogêneo e desarticulado.
Afinal o produto “droga” encontra-se entre as três atividades mais lucrativas do mundo, superando o petróleo e o mercado das armas. Além disso, forma uma rede direta e indireta com um dos maiores empregadores de pessoas na produção, no consumo e na distribuição de substâncias psicoativas.
Contudo essa atividade agrega valor à sua existência, o que em muitas vezes explica a reduzida eficiência e eficácia de explicações.
consolidando como poderosa economia ilegal.
De forma geral, encontram-se nessa obra argumentos consistentes para fundamentar as questões das drogas e talvez por isso se torne referência para os interessados no estudo deste fenômeno. Afinal o paradoxo da droga é que ele ao mesmo tempo traz alivio, alegria diversão, poder, sedução, produz dor, sofrimento, desagregação, escraviza e mata.
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